Oitava parada: Vivendo a pintura – Berthe Morisot (França)
Seguimos viagem descobrindo artistas que pintaram o nosso tão amado cafezinho. E nesta oitava parada, continuamos em terras francesas, mergulhando ainda mais no Impressionismo, com a vida e obra de Berthe Marie Pauline Morisot (1841-1895).
Nasceu em Bourges, Cher, em 1841. De uma família com posses, Berthe Morisot tinha duas irmãs mais velhas, Yves e Edma e um irmão mais novo, Tiburce. A família se muda para Paris, em 1852, e as irmãs estudam música, desenho e pintura. Tendo como tutor o pintor Joseph Guichard (1806-1880), frequentaram o Louvre para copiar as pinturas expostas como forma de exercício. Guichard alertou a família sobre os problemas em se continuar a formação artística das filhas:
“Elas se tornarão pintoras. Vocês estão plenamente conscientes do que isso significa? Será revolucionário – eu diria quase catastrófico – em seu meio da alta burguesia”.
Edma e Berthe continuaram os estudos, mas Edma casou e abandonou sua dedicação à pintura. Berthe, contudo, continuou trabalhando e, no Louvre, conheceu diversos artistas, como Camille Corot (1796-1875), que a encorajou a pintar ao ar livre. Estudou e produziu extensivamente nesta época, inclusive esculturas.
Quando tinha apenas 23 anos, em 1864, expôs pela primeira vez no Salão de Paris, com duas pinturas de paisagens. Para uma jovem mulher, nesta época, esta era uma imensa conquista.
Para uma jovem mulher, nesta época, esta era uma imensa conquista.
É deste mesmo ano, a pintura que fez da irmã, Edma, Jovem senhora sentada em um banco (1864), parte do acervo do National Gallery of Art, em Washington DC:
A relação com os irmãos Manet
Em 1868, conhece Édouard Manet (1832-1883) com quem começa a trocar feedbacks sobre seu trabalho. Manet teve Morisot como modelo em doze de suas pinturas. Abaixo, o famoso retrato que fez dela, Berthe Morisot com um bouquet de violetas (1872):
Não se sabe se eles tiveram algum envolvimento romântico. O certo é que um influenciou as pinturas do outro e que, por meio da relação com Manet conheceu diversos outros pintores, fazendo parte do grupo de impressionistas.
Por conta do extremo machismo da época, não deve ter sido fácil para Morisot conviver num meio que era considerado dos homens e ainda ser vista como “fora do lugar onde deveria estar: casada e cuidando da vida doméstica”.
“fora do lugar onde deveria estar: casada e cuidando da vida doméstica”.
Um exemplo é a carta de Manet para o pintor Fantin-Latour (1836-1904) na qual escreve: “As (duas irmãs) Morisot são encantadoras, que vergonha não são homens, mas podem, como mulheres, servir a causa da pintura, casando cada uma com um acadêmico”. Em 1872, Morisot vende 22 pinturas para o negociante de arte Durand-Ruel (1831-1922), o que a fez se estabilizar na carreira artística. Muitas de suas pinturas são da vida doméstica, como um de seus quadros mais famosos, O berço (1972), no qual ela pinta sua irmã com seu sobrinho:
Dois anos depois, acontece a inauguração do Salão dos Independentes, com trinta artistas expositores, incluindo Morisot, Monet e Renoir. Manet tenta persuadi-la a não expor no salão, já que ele havia recusado abrir mão de sua carreira de arte mais convencional. Ela, no entanto, expõe no salão, mostrando o quanto valorizava fazer parte do grupo.
Berthe Morisot em 1875, fotografada por Charles Reutlinger
No mesmo ano, se casa com Eugène Manet, no que dizem, pode ter sido um casamento de conveniência, pois o irmão Édouard já era casado. Ele nunca mais a pintou depois do casamento. Eugène também era pintor, mas acabou não se dedicando a sua pintura e apoiando a carreira da esposa. Eles tiveram uma filha, Julie, em 1878.
É desta mesma época, as obras O espelho de Cheval (1875).
E Mulher com leque (1876).
Impressionista dedicada
Morisot sempre expôs utilizando seu nome de solteira, nunca o de casada ou um pseudônimo, algo nada comum para a época e foi um dos poucos artistas que expuseram em todas as mostras impressionistas, com exceção de 1879, ano em que nasceu sua filha. É na sua tela, Interior da Cabana (1886) que nosso querido cafezinho aparece, provavelmente com sua filha Julie ao fundo, então com sete anos.
Em 1892, faz sua primeira exposição individual, poucos meses depois da morte do marido. Morre em março de 1895, com 54 anos, de pneumonia em Paris. No seu atestado de óbito se atesta o machismo de época: “sem ocupação” e também em seu jazigo: “Berthe Morisot viúva de Eugène Manet”.
“Berthe Morisot viúva de Eugène Manet”.
Contudo, um ano depois de sua morte, em seu tributo e homenagem, a galeria de Durand-Ruel expõe 380 de suas pinturas, desenhos e aquarelas, organizadas por seus amigos Degas, Monet, Renoir e Mallarmé.
Para saber mais sobre a vida e obra desta grande artista impressionista, indicamos o filme Berthe Morisot, de 2013, infelizmente, ainda sem legenda em português.
E, qual será nosso próximo destino? Comente!
Até a próxima parada, em mais um Café com Arte!
Não deixe de ler:
Sétima parada com: Paul Signac
Sexta parada com: Pierre Auguste Renoir
Quinta parada com: Edvard Munch
Quarta parada com: Hanna Hirsch-Pauli
Terceira parada com: Rafael Barradas
Segunda parada com: Jean-Baptiste Debret
Primeira parada com: Cândido Portinari
Carol Lemos – jornalista, mudou-se de São Paulo para Alto Paraíso, onde encontra inspiração para escrever e cuidar dos pequenos Uirá Alecrim e Dhyan Eté. Carol escreve semanalmente para o blog do Grão Gourmet. E-mail: carolinalcoimbra@gmail.com.
Gostou da história? Aproveite o clima cafeinado para conhecer nosso clube de assinaturas!
Parabéns. Excelente apresentação. Uma grande pintora.
Bjs Zezinha
Obrigada Zezinha! Bj
Não perco os posts do Café Com Arte!
Excelente ideia, seleção caprichada de pintores, conteúdo rico sobre os mesmos, texto super agradável.
Claro que para ver todos, passei um café, e com ele viajei pela história do grão presente na arte!
Aguardo os próximos!
Parabéns!
Ana Luiza Martins
Obrigada Ana! Até a próxima parada 😉
Não perco os posts do Café Com Arte!
Seleção caprichada de pintores!
Claro que para ver todos, passei um café, e com ele viajei pela história do grão na arte!
Parabéns!
Ana Luiza Martins
Oi Ana! Que bom que está curtindo essa viagem conosco 😉 Um abraço, Renata
Cultura nunca é demais. Parabéns pelo conteúdo e forma de escrever.