Café pelo mundo: Alemanha

Café Zimmermann imagem capa

Alemanha: berço de música a coadores de café

Mapa da Alemanha

A primeira vez que se têm registro de alguém falar sobre a existência do café na Europa, foi na Alemanha.

Leonhard Rauwolf (1535-1596), médico, botânico e explorador alemão, em 1573, fez sua memorável viagem para Aleppo e, em 1582, editou seu livro “Aigentliche Beschreibung der Raiß inn die Morgenländer” (algo como “Viagem a países do Oriente”) no qual menciona, pela primeira vez na Europa, o café:

“Uma bebida muito boa eles chamam Chaube que é quase tão preta quanto a tinta e muito boa na doença, especialmente do estômago. Isso eles bebem de manhã cedo nos lugares abertos antes de todo mundo, sem medo ou respeito, fora dos copos da China, tão quente quanto possível, bebendo um pouco de cada vez “.

Imagem do livro de Leonhard Rauwolf
Imagem do livro de Leonhard Rauwolf

Depois dele, Adam Olearius (1599-1671), e Johann von Mandelsloh (1616-1644), ambos em suas publicações de 1637, mencionam o café como bebida.

Como chegou?

Foi por volta de 1670 que o consumo de café foi introduzido na Alemanha.

Primeiramente no norte, a bebida chegou por um inglês que abriu a primeira casa de café em Hamburgo, entre 1679-80. Diversas outras casas de café foram sendo abertas, nas cidades de Regensburg (1689), Leipzig (1694), Nuremberg (1696), Stuttgart (1712), Augsburg (1713) e Berlim (1721).

o café entrou nas casas e começou a substituir a sopa de farinha e a cerveja quente nas mesas do café da manhã.

Foram os ingleses que forneciam os cafés utilizados no norte da Alemanha, e os italianos, no sul do país.

Casa de café Richter
Casa de café Richter, em Leipzig

As casas de café se tornaram comum e, no período de Frederico, o Grande (1712-1786) mais de uma dúzia de casas de café podiam ser frequentadas na região metropolitana de Berlim, sendo que nos subúrbios, também se bebia café, mas oferecidos em barracas nas ruas.

O primeiro periódico de café da Alemanha veio da Itália e foi publicado em Leipzig, em 1707, por Theophilo Georgi.

Em 1721, em Nuremberg, foi publicado o primeiro tratado alemão sobre café, chá e chocolate por Leonhard Ferdinand Meisner.

Imagem do periódico Leonh Ferdinand Meisner

Durante a segunda metade do século XVIII, o café entrou nas casas e começou a substituir a sopa de farinha e a cerveja quente nas mesas do café da manhã.

Mas, a popularidade do café encontrou resistência também na Alemanha. Muitos médicos se dedicaram à campanhas contra a bebida e um dos principais argumentos é que causava esterilidade.

o café entrou nas casas e começou a substituir a sopa de farinha e a cerveja quente nas mesas do café da manhã.

Repúdio ao café

Imagem Café Zimmermann
Café Zimmermann

O repúdio ao café era um tema recorrente entre as famílias, tanto que, em 1732, por encomenda de Gottfried Zimmermann, o músico, compositor, maestro e professor Johann Sebastian Bach (1685-1750) musicou uma mini ópera, a Café Cantata (Kaffeekantate, BWV 211).

Zimmermann era dono do Café Zimmermann ou Zimmermannsche Kaffeehaus, uma casa de café em Leipzig que também abrigava o Collegium Musicum, uma sociedade de música fundada por Georg Phillip Teleman e dirigida por Bach entre 1729 e 1739.

Zimmermann não cobrava ao grupo nenhum valor para seus concertos, nem para o público. Os custos eram pagos com as vendas de café. Zimmermann, segundo registros, teria também comprado os instrumentos da orquestra. Os concertos no local tiveram fim com a morte de Zimmermann em 1741.

Romanushaus casa de von Ziegler
Romanushaus, casa de von Ziegler, que também era um salãode música e literatura

De acordo com a musicóloga Katherine R. Goodman, a Café Cantata teria tido suas primeiras apresentações na Romanushaus, casa de Christiane Mariane von Ziegler (1695-1760).

Ela escreveu diversos textos para nove cantatas de Bach e Goldman sugere que ela teria escrito o texto do coro final do livreto de Picander para a Café Cantata:

“Como os gatos sempre perseguirão seus ratos, então as senhoras bebem seus cafés. Se as mães e as avós adoram café, então, quem pode culpar as filhas? “.

Café Cantata

A Café Cantata é, em parte, uma ode ao produto (uma propaganda mesmo!) e uma crítica ao movimento que surgia na Alemanha e que procurava impedir as mulheres de tomar café.

Conta a história de uma jovem, chamada Aria, que, claro, ama café. Seu pai, Schlendrian, está preocupadíssimo que sua filha entregue-se à nova mania de tomar café e tenta dissuadi-la a qualquer custo, inclusive oferecendo-lhe um marido(!).

Café Cantata Bach

Segue alguns trechos da letra:

“Ah, como é doce o seu sabor. / Delicioso como milhares de beijos, / mais doce que um moscatel. / Eu preciso de café”… “Se você não desistir do café por mim/ você não vai a nenhuma festa de casamento/ ou mesmo sair para caminhadas”… “Paizinho, não sejas tão mau. / Se eu não beber meu café / as minhas curvas vão secar / as minhas pernas vão murchar / ninguém comigo irá casar”.

Café Cantata partitura

Aqui, você pode escutar a música e aqui pode ler a letra completa em alemão e em inglês.

Bloqueio do café

Frederico, o grande, tentou bloquear a importação de café na Prússia preocupado com a grande competição aos produtos locais. Em 13 de setembro de 1777 ele publicou um manifesto sobre o café a cerveja que falava:

“É desagradável notar o aumento da quantidade de café usada por meus sujeitos, e a quantidade de dinheiro que sai do país em consequência. Todo mundo está usando café. Se possível, isso deve ser evitado. Meu povo deve beber cerveja. Sua Majestade foi criada em cerveja, assim como seus antepassados ​​e seus oficiais. Muitas batalhas foram travadas e conquistadas por soldados alimentados com cerveja; E o rei não acredita que os soldados que bebem café possam depender para suportar dificuldades ou vencer seus inimigos em caso de ocorrência de outra guerra.”

Durante algum tempo, a cerveja foi restaurada para seu lugar de honra e o café continuou a ser um luxo oferecido apenas pelos ricos.

Em 1781, vendo que a população continuava a apreciar o café e entendendo que todos os seus esforços para reservar a bebida para os círculos exclusivos da corte, da nobreza e aos oficiais de seu exército, foram inúteis, o rei criou um monopólio real no café e proibiu sua torra, exceto para estabelecimentos da realeza. Ao mesmo tempo, ele fez exceções nos casos da nobreza, do clero e dos funcionários do governo, Mas rejeitou todos os pedidos de licenças de torrefação de café pela comunidade comum.

“Todo mundo está usando café. Se possível, isso deve ser evitado. Meu povo deve beber cerveja.”

Filtro de café

Foi na Alemanha que inventaram o filtro de papel, você sabia?

Nascida na cidade de Dresden, Melitta Bentz (1873- 1950) não estava satisfeita com os percolados de café (que acabavam produzindo mais café do que o necessário), nem com as máquinas de café expresso porque na época ainda deixavam resíduos na bebida, nem com os filtros de pano, que na época eram feitos de linho, muito difíceis de limpar.

Melitta, então, experimentou diversas técnicas até que, em 1908, teve uma ideia simples e genial: fez pequenos furos em uma caneca de latão transformando-o em uma peneira e utilizou um pedaço de papel do caderno escolar de seu filho, inventando assim, o primeiro filtro de café.

Melitta Bentz
Melitta Bentz

O Serviço Imperial de Patentes da Alemanha concede à Melitta uma patente em 20 de junho de 1908 e em 15 de dezembro do mesmo ano ela inicia uma empresa, entrando com um pedido de registro comercial.

Em 1909, a empresa vende 1200 filtros em uma feira em Leipzig. Seu marido Hugo e seus filhos Horst e Willy foram seus primeiros empregados. Muitas mudanças ocorreram com a empresa, especialmente quando eclode a Guerra. Mas, na época da morte de Melitta, a empresa valia cerca de 4,7 milhões de marcos alemães, cerca de 2,4 bilhões de euros hoje!

Os bisnetos de Melitta, Thomas e Stephen Bentz, ainda comandam a empresa, contando com 3 mil empregados em cinquenta filiais pelo mundo. No Brasil, a marca Melitta chegou em 1968, sessenta anos depois da invenção.

Nos dias de hoje

O café na Alemanha tem a fama de ser muito ruim.

Na verdade, o que faz o café lá ser diferente é a torra, sempre mais clara, deixando o café comumente mais “fraco”.

De qualquer forma, o jeito Melitta de fazer café é o mais comum entre os alemães.

Agora, se você for pedir um café numa cafeteria ou numa padaria, peça um Schwarzkaffee (café preto), o mais parecido com o nosso cafezinho. Eles costumam utilizar também os termos italianos para os outros tipos de café, então, você não vai se sentir tão perdido assim, porque são parecidos com o que vemos aqui no Brasil.

Outro dado interessante sobre o café e a Alemanha é que, apesar de não produzirem um único grão, eles importam e revendem café, lucrando muito com isso.

Só do café que importa do Brasil, ela revende dois terços. Se o café for reprocessado pela Nespresso, no norte da Alemanha, por exemplo, o valor que ganha para si chega a ser 70 vezes o que foi pago originalmente ao produtor no Brasil. Quer saber mais? Assista esse vídeo.

E você, leitor, gostou de conhecer sobre o café na Alemanha? Conte para a gente!

Fontes:

Aventuras da barista

Alumni

NY Times

My German City

German Way

Publico

Bach

Leia também:

Café pelo Mundo – Itália: café como tradição e excelência

Café pelo Mundo – Turquia: o futuro em uma xícara de café

Café pelo Mundo – Áustria: os cafés que fizeram história

Café pelo Mundo – Inglaterra: o impacto do café na rotina e na política

Carol Lemos – jornalista, mudou-se de São Paulo para Alto Paraíso, onde encontra inspiração para escrever e cuidar dos pequenos Uirá Alecrim e Dhyan Eté. Carol escreve semanalmente para o blog do Grão Gourmet. E-mail: carolinalcoimbra@gmail.com.

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7 thoughts on “Café pelo mundo: Alemanha

  1. Adriano says:

    Ufa!, sabendo do detalhe do schwarzkaffee, não vou passar apuros quando estiver por lá … Em tempo: Bach & Schwarzecaffee, tudo a ver!!!

    • Renata Kurusu Gancev says:

      Oi Adriano, tudo bem? Isso mesmo 😉 Continue acompanhando nossa série! Um abraço, Renata

    • Renata Kurusu Gancev says:

      Oi Marcio, tudo bem? Que bom que gostou 😉 Continue acompanhando nossa viagem! Um abraço, Renata

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