Austrália: o lugar dos baristas
Os australianos amam o seu café, tanto, tanto, que grandes empresas de café como a estadunidense Starbucks, mesmo chegando contudo no país, não se mantiveram (de 84 lojas abertas no ano 2000, 61 haviam fechado as portas em 2008), justamente porque não conseguem oferecer o amado cafezinho dentro dos padrões de alta qualidade que eles esperam.
Aproximadamente 95% das cafeterias são de propriedade independente de baristas especializados na preparação e apresentação de café.
Hum… que vontade de ir para o outro lado do mundo e experimentar todo este profissionalismo e qualidade em uma xícara!!
Vamos conhecer como chegaram a apreciar tanto o café?
Um pouco da história
Não existe nenhuma documentação sobre os australianos indígenas (conhecidos como aborígenes) contando que eles consumiam café antes da colonização.
Eles ocuparam a Austrália cerca de 70 mil anos atrás.
Embora tenha sido avistada por portugueses, holandeses e espanhóis, ainda na época das grandes navegações, a Austrália só foi invadida mesmo quando, em 1770, o capitão inglês James Cook foi enviado para lá.
Retrato do capitão James Cook (1775)
Colonização
A colonização teve início em 1788, no local que hoje é a cidade de Sydney, quando a Inglaterra resolveu fazer da nova terra uma colônia penal, enviando para aquela região os presos com penas superiores a sete anos. A primeira frota enviada tinha onze embarcações, que trouxeram mais de mil pessoas.
Presume-se, portanto, que os primeiros grãos de café chegaram com os navios ingleses nesta mesma época, junto, claro, com o chá.
Após a Segunda Guerra Mundial, ocorreram dois fatos que impulsionaram a cultura do café na Austrália.
O primeiro foi o governo australiano diminuir os controles sobre a importação de café.
E o segundo, o lançamento de um novo programa de imigração do governo australiano, significando que, pela primeira vez, a Austrália aceitaria imigrantes europeus não britânicos. Com esta iniciativa, chegaram milhares de europeus, incluindo italianos, gregos e turcos que sabiam como preparar um ótimo café.
O impacto do espresso
Cafe Florentino na Bourke Street teve a primeira máquina de café espresso, em 1930
Com a cultura dos colonos britânicos, o chá era a bebida número um na Austrália e, até a década de 1930, os australianos praticamente só conheciam o café de filtro.
A chegada da primeira máquina de café espresso comercial, instalada no Café Florentino em 1928, fez com que a cultura do café começasse a se infiltrar lentamente na sociedade. A casa continua na ativa ainda hoje com o nome Grossi Florentino, na cidade de Melbourne.
Grossi Florentino, nos dias atuais
O movimento do café em Melbourne
O álcool estava se tornando um problema na cidade de Melbourne na década de 1880, e, junto com isso, teve início um movimento (organizado principalmente por mulheres cristãs) para impedir bebida alcoólica na cidade, tendo como efeito o fechamento dos pubs às seis da tarde e bairros inteiros onde não se podia comprar bebida alcoólica.
Foto do movimento
Com isso, iniciou-se também um movimento de palácios de café que ofereciam a socialização, sem o álcool, impulsionando, assim, a venda de café.
Um dos mais famosos da cidade foi o Grand Coffee Palace, que agora é o Windsor Hotel. James Munro, o diretor-gerente na época, cerimoniosamente queimou a licença de venda de álcool do hotel na abertura do Grand Coffee Palace, colocando simbolicamente o fim do uso do álcool neste tipo de estabelecimento.
Este movimento durou até 1897 quando, devido a um crash econômico na Austrália em 1891, não conseguindo se manter pelas vendas, os estabelecimentos retiraram novamente suas licenças para vender álcool. Porém, o gosto pelo cafezinho já tinha sido difundido na população.
O Grand Coffee Palace
Plantio de café
Acredita-se que a primeira plantação australiana de café foi realizada nas margens do Kangaroo Point, Brisbane, em 1832. Foi só em 1880 que, de fato, começou a se espalhar pela costa leste e até o norte de Nova Gales do Sul, data que marca o início do plantio comercial na Austrália. É nesta época que as culturas australianas começaram a ganhar prêmios na Europa.
Porém, a distância da Europa, o aumento dos custos de produção e a falta de “escravos do café” no país (e os custos trabalhistas – ainda bem! – advindos), fez com que a produção e a exportação declinassem.
Demorou quase 100 anos para que o plantio de café na Austrália voltasse a florescer, com o advento da mecanização.
A Austrália foi o primeiro país a fazer uma colheitadeira mecânica de café em todo mundo. Esta foi projetada e construída em uma plantação no norte de Queensland.
A colheitadeira, chamada “Coffee Shuttle #1”, revolucionou o processo de produção, já que significava menores custos de produção e muito menos tempo na colheita do café. Ela continua em operação, em seu local de nascimento: a plantação da família Jaques, segundo matéria publicada. A mecanização foi o que permitiu que a indústria do café crescesse local e regionalmente em toda a Austrália.
Produção orgânica
Atualmente, a Austrália tem sua produção conhecida como “clean green”, ou seja, livre de agrotóxicos.
Isso porque muitas das plantações australianas produzem uma alta porcentagem de café arábica orgânico. Isto ocorre, principalmente, devido ao solo de montanha naturalmente livre de pragas. Diversos produtores de café de outros países são particularmente suscetíveis ao besouro Khapra, o que significa que é bem desafiador crescerem organicamente, sem uso de pesticidas.
Atualmente, a maioria dos cafés australianos é cultivada nas terras de Atherton e no norte de Nova Gales do Sul. Várias pequenas plantações estão espalhadas pela área circundante ao cinturão de granito, bem como áreas na costa tropical e subtropical, o que significa que as fazendas de café são restritas, principalmente, a Queensland e a região dos rios do Norte.
É muito comum na Austrália as pessoas beberem o café da própria região e, alguns pequenos produtores vendem apenas para clientes fidelizados locais e on-line.
Uma belíssima viagem é se aventurar por essas montanhas e ir conhecendo as plantações de cada uma dessas regiões, sendo recebido pelo tom hospitaleiro das famílias, comumente oferecendo um cafezinho de alta qualidade para quem chega!
Estatísticas do café
Consumo
Foram consumidas 1,7 milhões de sacas de café (60 kg) em 2017.
O consumo anual per capita foi de 3,9 kg.
Só para ter uma base de comparação, no Brasil, o segundo maior país consumidor do mundo, foram 20,5 milhões de sacas (60 kg), com um consumo per capita de 5,9 kg.
Importação
Foram importadas 1,37 milhões de sacas (60 kg) de grãos verdes e 175 mil sacas de café torrado em 2017.
Inovação no café
A Austrália ficou conhecida como a terra da inovação no café.
Realmente, cada cafeteria tem sua forma de preparação e apresentação, onde você pode conhecer também a origem de cada café oferecido.
O foco na qualidade do grão, torra, preparo e apresentação é notável.
Ser barista é uma profissão na Austrália, hoje, com a qual se vive muito bem e que se têm tempo e dinheiro para continuar inovando. Neste país, não é comum se encontrar cafés adocicados e misturados (com caramelo, por exemplo) e sim, inovações na forma de preparar espressos e com as possibilidades de leite texturizado.
Teve até um barista australiano que ganhou o campeonato mundial de 2015 realizado em Seattle, Sasa Sestic.
Onde tomar café na Austrália?
O site australia.com elenca locais para se tomar um delicioso cafezinho quando for viajar por lá e, já avisa:
“Limitar-se a 10 lugares em Sydney ou Melbourne já seria difícil; 10 para todo o país é quase impossível. Comece com essa lista e saiba que, para todos os locais que listamos aqui, há pelo menos três outros que são tão bons quanto.”
Confira a lista:
Market Lane, Melbourne
Patricia, Melbourne
The Kettle Black, Melbourne
Barrio Collective, Canberra
Gumption, Sydney
Neighbourhood by Seán McManus, Sydney
Single O, Sydney
Reuben Hills, Sydney
Viva a Austrália, sua produção e suas cafeterias inovadoras!
Vamos nos deliciar? Hum…!!
Fontes:
Organização Internacional do Café
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Café pelo Mundo – Itália: café como tradição e excelência
Café pelo Mundo – Turquia: o futuro em uma xícara de café
Café pelo Mundo – Áustria: os cafés que fizeram história
Café pelo Mundo – Inglaterra: o impacto do café na rotina e na política
Café pelo Mundo – Alemanha: berço de música a coadores de café
Café pelo Mundo – Japão: o berço dos equipamentos para preparar cafés especiais
Café pelo Mundo – Egito: o café na base da cultura e política de um país
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Carol Lemos – jornalista, mudou-se de São Paulo para Alto Paraíso, onde encontra inspiração para escrever e cuidar dos pequenos Uirá Alecrim e Dhyan Eté. Carol escreve semanalmente para o blog do Grão Gourmet. E-mail: carolinalcoimbra@gmail.com
Produtos da lojinha!
E com um café gostoso que tal comer aquele famoso Vegemite, um produto gastronômico que os habituados passam encima do pão com manteiga !
Agora tem no Brasil um similar com o nome de Cenovit, um extrato de levedura.
Além de passar no pão é muito usado como tempero no cozinha porque além de dar um sabor diferenciado, o Cenovit realça os sabores, tendo o efeito “umami”.
Um abraço, Patrick.