Café pelo mundo – Turquia, o futuro em uma xícara de café

Imagine que, ao olharem o fundo da sua xícara de café podem falar sobre o que vai acontecer na sua vida nas próximas horas ou dias ou anos? Pois é, esta é uma das tradições que existem na Turquia relacionadas ao café, uma das lindas partes que temos em toda essa história do café.

Se interessou? Então, nos acompanhe nas próximas linhas no Café pelo Mundo, conhecendo sobre a história do café na Turquia.

Mapa Turquia

Kahvesi

Tomar um café turco ou “turk kahvesi” significa testemunhar o impacto que esta bebida tem na história, na tradição, na cultura e no cotidiano de qualquer turco. Um exemplo são as palavras “kahvalti” (antes do café) utilizada para “pequeno-almoço” e “kahverengi” (a cor do café) utilizada para a cor “castanha”.

Como o café chegou

imagem Suleiman, o Magnífico

Imagem de Suleiman, o Magnífico

Conta-se que o café foi introduzido durante o sultanato de Suleiman, o Magnífico, para os ocidentais, ou Kanuni, o Legislador, para os orientais, (1494- 1566) no ano de 1543 na cidade de Constantinopla (atual Istambul). Foi pelas mãos de Ozdemir Pacha, da casta militar dos mamelucos no Egito que, durante seu mandato como governador otomano do Iêmen, ganhou gosto pela bebida e a apresentou ao sultão.

imagem 1

Rapidamente o café se espalhou por toda corte, tão apreciada que se tornou a bebida de predileção do palácio imperial. Tanto é que uma nova função surgiu na corte: a de “kahvecibasi” ou cafezeiro-chefe, a pessoa de confiança a fazer o café do sultão.

Para ocupar esta função, além é claro de preparar um ótimo café, a pessoa precisava ser leal ao Sultão e saber guardar segredos. Os anais da história Otomana registraram um grande número de “kahvecibasi” que vieram a ser Grão Vizir (primeiro-ministro) do sultão, tamanha sua importância.

A cultura do café se tornou, então, parte fundamental da cultura social de Istambul.

A população turca tomou conhecimento do café por meio das Casas de Café, sendo que a primeira, chamada Kiva Han, foi aberta no distrito de Tahtakale, em 1554, e logo em seguida muitas outras começaram a aparecer em toda a cidade.

Com o tempo, a bebida tornou-se a predileta também por todo o Império, sendo consumida nas casas de todas as classes. A cultura do café se tornou, então, parte fundamental da cultura social de Istambul.

Banimento do café

Com o consumo acentuado nas casas de café e todas as conversas que aconteciam nesses espaços, o Sultão Osman II (1604-1622), com receio de rebeliões e discussões políticas, proibiu por meio de uma Declaração feita pelo Sheikh ul-islam (o xeque do islã, a maior autoridade nos assuntos do Islã)

“o consumo de qualquer tipo de alimento, torrado até possuir cor próxima do carvão”.

Naquela época, os cafés eram torrados em placas de ferro de pequeno tamanho e praticavam uma torra acentuada, que gerava um café escuro, que era moído e servido apenas no momento do consumo.

Em função desta Declaração, no dia seguinte, todas as sacas de café vindas do Iêmen, foram derramadas dentro do Estreito de Bósforo. Isto resultou em 22 anos de banimento do café na Turquia. Mas inventaram um jeito de continuar consumindo café: passaram a fazer torras mais claras.

A leitura da borra do café

imagem A leitura da borra do café

Outro ponto fundamental a ser considerado quando se fala em cultura do café na Turquia é a tradição da rígida separação entre homens e mulheres fora do ambiente familiar. Conforme conta o livro de Carlos Andreotti “Café – Chefs”, como consequência desta separação, as mulheres foram proibidas de frequentar as casas de café turcas.

As mulheres do harém do sultão, portanto, bebiam café no palácio juntas, em sessões coletivas. Depois, o fundo de cada xícara era lido por uma advinha da corte, que lhes dizia seu futuro, em especial em relação ao relacionamento com o monarca.

Pode-se dizer que não é completa a experiência de se tomar um café turco, se ela não inclui a leitura tradicional da borra. Esse costume espalhou-se e, mesmo hoje, as mulheres continuam buscando conhecer seu futuro olhando na borra. Comercialmente criou-se até um nome para isso e pessoas ofertam, como um serviço para os turistas, a cafeomancia, ou seja, a previsão do futuro pela leitura da borra do café.

imagem A leitura da borra do café

É também comum, na Turquia, que uma mulher, prestes a casar sirva café para a família do noivo durante uma visita na sua casa.

Se está interessada em casar-se com aquele homem ela coloca açúcar no café dele. Se não quer ou não tem certeza, coloca sal na bebida e espera a reação do noivo. Este deve beber o café até o fim, mesmo que temperado com sal. Depois disso, é feita a leitura da borra restante na sua xícara, geralmente pela mulher mais experiente da família.

Dizem que não se faz a leitura de café sem antes de virar a xícara de ponta cabeça na mesa. Esta é, portanto, mais uma parte do ritual de consumo do café turco, virar a xícara na mesa após seu consumo.

Como é preparado?

O café deve ser negro como o inferno, forte como a morte e doce como o amor – provérbio turco

imagem preparo do café turco

O café na Turquia é preparado a partir de café moído muito fino, com consistência de farinha. Ele é tradicionalmente feito em uma panela pequena de cabo longo chamada “cezve” ou “ibrik”. O açúcar, caso o apreciador queira, é colocado já na panela para o preparo. É costume, também, inserir especiarias como cardamomo, canela ou anis estrelado.

A bebida resultante fica extremamente concentrada, por isso não se deve mexer o café após o servir, pois isso perturba a sedimentação do pó e a bebida fica arenosa. Cada copo é espumoso e deliciosamente aromático.

Costuma-se servir com um copo de água, pois ela prepara a boca para o sabor do café. Justamente por ser muito concentrado, o café turco deixa uma borra de café ao final de se tomar a bebida, e é dela que é feita a leitura.

Quer saber como preparar um café turco? Assista os vídeos em português e em inglês.

Até quase o final do século XIX os grãos de café eram comprados em grão ainda verde, torrados em casa e depois moídos em pequenos almofarizes. No final do século XIX Mehmet Efendi, um comerciante, herdou de seu pai uma loja de especiarias e grãos de café.

Em 1871 começou a torrar os grãos e a moê-los, vendendo-o já em pó fino e pronto para preparo em casa.

Esta loja, chamada Kurukahveci Mehmet Efendi existe até hoje!

Em 1931 Mehmet Efendi faleceu e seus três filhos assumiram o negócio. Construíram um edifício no local, onde hoje funciona a sede da empresa e uma loja.

No blog Garfadas online

Ana Marques Pereira descreve sua experiência com a loja:

imagem Kurukahveci Mehmet Efendi

“Foi com surpresa que descobri uma fila de compradores que, em silêncio, se aproximavam da janela, já com dinheiro na mão, e sem necessidade de palavras, recebiam um pacote de café moído, embalado em papel creme com letras castanhas, onde se encontrava a marca do café.

imagem Kurukahveci Mehmet Efendi

O movimento da rua é tal que não me foi possível tirar boas fotografias, porque somos empurrados pela multidão, á exceção da fila silenciosa que se desloca junto á parde da loja. Lá dentro, três jovens de bata castanha trabalham sem parar. Um introduz o café nos pacotes com uma velocidade vertiginosa, outro fecha o pacote e o terceiro o entrega ao cliente”.

Apesar do café ter esta grande importância no dia a dia e na cultura turca os turcos não têm um dos maiores consumos per capta do mundo, pelo contrário, são apenas 0,4 kg.

Segundo estatísticas produzidas pela Organização Internacional do Café (OIC).

Mas foram eles que apresentaram o maior crescimento de consumo de café no mundo, entre 2012 e 2016, segundo dados também da OIC: 10,4%.

Eles também não produzem seu próprio café, este é importado em sua maior parte da América Latina e, olha só, daqui do Brasil.

E você, já apreciou um café turco? E o que achou desta matéria? Conte para a gente!

imagem café turco

 

Fontes: 

Cultura Turca

Cafekinetic

Revista Cafeicultura

Critical Muslim

Comenta Suleiman

Leia também:

Café pelo Mundo – Itália: café como tradição e excelência

Carol Lemos – jornalista, mudou-se de São Paulo para Alto Paraíso, onde encontra inspiração para escrever e cuidar dos pequenos Uirá Alecrim e Dhyan Eté. Carol escreve semanalmente para o blog do Grão Gourmet. E-mail: carolinalcoimbra@gmail.com.

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12 thoughts on “Café pelo mundo – Turquia, o futuro em uma xícara de café

    • Renata Kurusu Gancev says:

      Obrigada Silair! O café é cheio de história pelo mundo, estamos desvendando algumas delas 😉 Um abraço, Renata

    • Renata Kurusu Gancev says:

      Que bom que gostou Ines! Continue viajando conosco na série Café pelo Mundo! Um abraço, Renata

  1. marcus Tadeu Machado de Souza says:

    Amo café turco,fui A Turquia 2 vezes e me apaixonei tb pelo café.Meu café que trouxe acabou,tem alguma dica de café em grãos aqui do Brasil que posso usar?

    • Renata Kurusu Gancev says:

      Olá Marcus, tudo bem?
      Que bacana sua experiência na Turquia!
      A dica de café é o do Grão Gourmet 😉
      Que tal fazer uma assinatura? Podemos moer bem fino para fazer um café turco…rs

  2. Neusa Simões says:

    Estou assistindo um seriado turco e vejo o quanto eles tomam essa bebida deliciosa. Adorei a matéria. Grata por esse aprendizado. Desejo felicidades.

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