O direito ao café
“Os jantares em casa eram rígidos. E tinham história. Entre a chegada em casa e a mesa, por caminhos que meus irmãos e eu nem suspeitávamos, o nosso pai recebia o relato diário e daí decorria a disposição dos filhos à mesa, entre as cabeceiras onde se sentavam pai e mãe. Esse posicionamento era útil para eventuais punições, os “pecados” infantis ou juvenis punidos com castigos.
A refeição incluía pão e azeitonas, sopa e um prato principal. Todos comiam tudo e não consigo lembrar de qualquer tentativa de escapar de qualquer prato ou item. A severidade estava também nas porções: um bife, um ovo, uma posta, jamais duas unidades.
O café vinha depois, muito depois. Pelo menos era assim que ele era percebido, com o seu longo ritual. Vinha depois das frutas, que no inverno poderiam ser secas (nozes, figos, uvas) e às vezes era compartilhada (meia maçã para cada um, por exemplo). Depois, lentamente, o café. Preparado na máquina italiana (raramente) ou nos dois balões (pressão fazendo subir a água, vácuo trazendo de volta o café coado), o seu aroma invadia o ambiente.
Não sei quando ele me atraiu pela primeira vez, mas era interditado às crianças: “Faz mal!” Por muitos anos esse café e o seu aroma me torturaram como um desejo inacessível. E as crianças não podiam levantar da mesa antes de a refeição terminar, muito depois do último gole de café dos adultos. Adolescente, rebelde como todos, comecei a tomar café na rua, com o grupo de amigos, alguns mais velhos, do Liceu. Aos 15 anos, no meu aniversário, o mundo dos adultos finalmente me concedeu a graça de tomar café. Até hoje, tantos anos depois, um café nunca é apenas um café.”
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João Furtado
Se você também tem uma história bacana sobre café e gostaria de vê-la publicada, mande seu conto para contato@graogourmet.com.
Os contos selecionados serão presenteados com um brinde especial.
Opa…história é o que não nos falta, de café, claro..
adorei o relato! nota-se a relacao familiar de outros tempos, que hoje esta se tornando tao rara devido a correria do dia a dia.
Que bom Nathalia 😉 Se quiser contar uma história também… um abraço, Renata
Belo conto JF. Apreciei enquanto sorvia uma porção vespertina de Latte!!
Oi Adriano, tudo bem? Caso tenha uma história também, fique à vontade para nos contar 😉 Um abraço, Renata
Também tanho boas lembranças relacionadas com café. Meu avô, que me criou, era dono de um armazém de café na Avenida Brasil. Acho que vou me animar e escrever um conto também.
Oi Maria, tudo bem? Por favor, escreva sua história para nós 😉
Um abraço,
Renata
Apprehend tomar café com meu pai, um tomador de café que dizia que a qualidade cafeinada era boa para que a inteligência aumentasse. A princípio, café forte e amargo era com ele mesmo, contador que passava noites e noites fazendo contas e refazendo para descobrir onde estava o erro de 0,50 centavos de diferença. Lembro que dizia para ele: Então ponha os 0,50 ai e encerra o trabalho. Não pode, filha, isto é como uma bola de neve, aumentará todo mês e será um grande prejuízo para a Vale do Rio Doce. Concordei, Ele foi coar mais café e reclamou: Deixe aí o lápis da Vale, ele não é meu, amanhã compro outro para você.
Bonita sua história Natália, obrigado. 🙂