O cafezal que rendeu frutos
“Intensidade e energia eram o que me faltava e o que mais desejava. Minha infância foi difícil, com muitos problemas de saúde. Passar três meses internado em um hospital era a única certeza que tinha em cada virada de ano. A cada dia no leito do hospital, reunia minhas forças para conhecer algo – que naquele momento não sabia o quê, mas certamente havia de ser uma vida repleta de novas sensações. Todavia, a única energia que possuía era empregada na paciência de apenas respirar.
Cresci no interior de Goiás, na antiga capital do estado – Goiás Velho. Sempre que precisava de atendimento médico, meu pai, em sua Brasília antiga (amarela), me colocava no banco de trás, e percorria o longo caminho até Goiânia. No decorrer deste trajeto, muito conhecido por fazê-lo diversas vezes, há um belo cafezal, na cidade de Inhumas. Sempre que o via sentia felicidade, pois sabia que a viagem estava chegando ao fim, e logo teria o alívio de um bom cuidado médico.
Os anos se passaram, minhas doenças também passaram, mas meu passado não passou. De maneira consciente busquei a Medicina como profissão. Ainda na faculdade observo o quanto é bom ver um paciente se recuperar, ter esperança no sentido de seu restabelecimento, e alívio quando seus sintomas passam. Por outra via inexplicável, uma verdadeira proeza do meu divino inconsciente, em certo dia fui até a uma cafeteria que um amigo meu acabara de inaugurar. Senti um prazer imenso em saborear o que ele descreveu como um “Bourbon Amarelo”, senti-me vivo, sabia que havia encontrado uma das sensações que a vida havia me prometido na infância.
Com minha mente que segue, a cada dia, numa vontade galopante que pulsa em meu ser, tento ir a diante com a medicina, já não mais como paciente; com o café, já não mais com um contato visual, mas com novas e vivas sensações que não se esgotam. A vida passa depressa, os significados mudam. Minhas doenças me ensinaram a amar, e o cafezal – depois café – se tornou o sabor, a alegria e a energia de experimentar cada segundo da vida como único, com a sua própria intensidade.”
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Djalma Sampaio – Estudante de medicina e apaixonado por café
Se você também tem uma história bacana sobre café e gostaria de vê-la publicada, mande seu conto para contato@graogourmet.com.
Os contos selecionados serão presenteados com um brinde especial.
Que incrível esse texto, nos remete ao sabor da vida.
Parabéns Djalma!
Querido Djalma, que alegria ler o seu texto, gostei muito e quero ver outros. Assim como saborear aquele delicioso café feito por você. Parabéns!
Adorei seu conto, bem real e cotidiano. Eu tenho várias e uma com muita espiritualidade. Mas preciso escrever. Abraços e vamos tomar um café um dia!!
Que grande sensibilidade! Lembrei de Talleyrand, chanceler de Napoleão Bonaparte, que observou que o bom café deve ser “negro como o diabo, quente como o inferno, puro como um anjo e doce como o amor”. Nada como uma boa xícara de café na presença de bons amigos!
Muito lindo texto!! Emocionante! Parabéns!!
Djalma emocionei-me com seu relato. O cheiro e o sabor do café sempre representaram para mim a cada manhã a vida que recomeça. E assim tem sido sua vida: a cada dia recomeçar com a certeza que haverá muito a comemorar no futuro, e claro com uma boa chicara de café!
Gostei imensamente deste conto. Escrita leve, mas substancial. Remete aos sabores, aromas e o universo alegórico da infância.
É assim essa vida apaixonante com café. Inicia-se de uma forma que não imaginamos mas que nos conquista aos poucos.
Excelente ,raro texto,com intensidade e sabor de um bom ‘café com boa prosa’!.. Parabéns!… Mais,mais e mais,café & literatura,sim,do que houver de melhor,tal e qual,esse,aqui em questão. PALMAS/Aplausos para o Grão Gourmet,por essa interessantíssima iniciativa,também,óbvio!
Aguardamos o seu texto professor 😉
Renata, eu sou grato por ter reunido tantas pessoas especiais neste espaço formidável. Viva o café!
Amei…..muito delicado,parecia estar junto na Brasília amarela.Obrigada.
Muito lindo texto!! Emocionante! Parabéns!!