Olá, continuando a nossa série “Contos Cafeinados”, temos mais um conto fresquinho para vocês!
Como o café conecta as pessoas, não é mesmo?!
Agora pegue seu café e ótima leitura 😉
Na série “Contos Cafeinados” publicamos diversas histórias relacionadas à bebida que tanto amamos, o café, e quem conta a história é você!
O conto de hoje foi enviado pela Aidil Borges, que vive em Cabo Verde!
Café com estórias
Mudou-se de armas e bagagens, do campo para a cidade.
Não foi uma adaptação fácil no começo, ter que deixar para trás a vida calma e tranquila que levava num lugar de paisagens edênicas, com enormes bosques em campo aberto, onde o tempo passa devagar, a natureza cativa, e todas as pessoas se conhecem entre si, e se cumprimentam, com um bom dia matinal, acompanhado de um espontâneo sorriso, para se apinhar numa cidade enorme, fervilhante, de céu baixo e carregado de nuvens suspensas que dá a sensação, o tempo todo, de querer se despencar sobre as tolas dos transeuntes, onde nem o próprio ar que se respira é de graça, e muito menos é recomendável.
Na nova urbe, cruzava diariamente com milhares de pessoas acotovelando sempre apressadamente para não perder a hora do labor e de todas as pendencias do cotidiano, onde ela pervagava anonimamente no meio da multidão.
Para compensar o vazio, rapidamente ganhou uma nova rotina que fazia religiosamente todos os dias, de forma prazerosa, e com o andar do tempo, virou um vício, sem o qual não podia passar, sequer um dia, que era levantar-se todas as manhãs, atravessar a rua e dirigir-se para o Bistrot em frente, onde chegava, pedia um café, aconchegava-se numa mesa, e saboreava-o de forma enlevada e prazerosamente.
O lugar era movimentado e as mesas eram disputadas, mas ela sempre encontrava uma reservada, à espera dela, e via também, sentado muito discretamente num canto, um velho Clochard, habitué daquele lugar, que era tratado com muito carinho pelo garçom, um jovem muito bem-apessoado com pinta de ator que lhe servia o café sempre com um sorriso, e às vezes até punha uma pequena tablete de chocolate junto.
A cada café da matina que saboreava diariamente, também prestava a atenção em duas outras coisas que aconteciam rotineiramente naquele Bistrot: o sorriso do garçom e as estórias do Clochard, que passaram a ser um tônico estimulante para a vida dela.
De tanto acontecer, criou-se uma empatia entre eles, que um dia, o Clochard volta-se para ela de forma familiar, e diz de um modo sorrateiro, muito baixinho, parecendo que não queria ser ouvido por mais ninguém: – Senhorita, tenho um segredo para lhe contar!
E ela, ficou pálida, olhou em volta como se tivesse sido denunciada e traída pelos seus próprios pensamentos, e voltou-se para o Clochard, e retorquiu, – Senhorita não, Senhora.
O Clochard, meio sem jeito, pediu desculpas e repostou prontamente, que já não podia e nem valia a pena continuarem aquela conversa, ao saber do status dela.
Mas, ela fez questão de continuar, e replicou dizendo, que ela também tinha um segredo.
Diante da reciprocidade do facto, a curiosidade falou mais alto, e resolveram se abrir, muito timidamente, e ele confessou-a, que o garçom havia escrito no outro dia um poema com o título “la fille qui vient au café” e ele, estava certo de que o poema era para ela.
Ela, olhou-o demoradamente, e com um leve sorriso de embaraço, disse furtivamente, quase a fugir, que também ia ao Bistrot diariamente, por três motivos: pelo sabor do café, pelas estórias do Clochard e pelo sorriso do garçom.
Aidil Borges – ilhada e amante de café
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que delícia de conto (e café), doce amiga AIDIL! parabéns pelo conto e por este site maravilhoso de café!