O inseto do café

Broca do café

Você já deve ter visto alguma pesquisa de alguma entidade de defesa do consumidor falando sobre fragmentos de insetos encontrados em algumas marcas de café, não é mesmo?

Pois bem, você sabe qual a origem desses insetos? Quem são? Onde vivem? O que fazem?

O que diz a Anvisa

A Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária tem uma Resolução, a RDC nº 14 de 28 de março de 2014, que dispõe sobre matérias estranhas encontradas em alimentos e bebidas.

Dispõe sobre matérias estranhas macroscópicas e microscópicas em alimentos e bebidas, seus limites de tolerância e dá outras providências.

Para café torrado e moído, o limite de tolerância máximo é de 60 fragmentos em 25 g de café. Nesse caso, os fragmentos são microscópicos, que podem estar presente no processo produtivo, mas que não podem ser totalmente eliminados mesmo com a adoção de boas práticas.

Resolução da Anvisa – RDC nº 14 de 28/03/2014 para café.

Insetos no café

No caso do café, segundo a ABIC – Associação Brasileira da Indústria do Café, os fragmentos de insetos estão relacionados à presença da broca do café, um caruncho (inseto) natural do café, que não é nocivo à saúde. Uma praga!

A entidade ressaltou em um comunicado que o aumento no número de fragmentos de insetos está relacionado à proibição do único defensivo agrícola que combatia a broca, o Endosulfan, e a não liberação da importação de outro similar pela Anvisa e o MAPA – Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento em junho de 2013.

Broca do café no fruto aspecto
Foto: Reprodução – Broca do café

“A permanência de frutos na árvore ou no chão após a colheita e a falta de varrição facilitam a proliferação da praga, tornando necessário controle fitossanitário”,

diz João Eudes de Rezende, engenheiro agrônomo da Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural) – MG na Série Tecnológica Cafeicultura – Defeitos do café.

Veja a aparência dos grãos de café brocados, um defeito que afeta diretamente a qualidade da bebida.

Grãos de café verde com brocas defeito

Grão brocado e o “café baixo”

Todo lote de café produzido na Brasil passa por um processo de beneficiamento, onde os grãos defeituosos, como os brocados, são separados daqueles sem defeitos, resultando no chamado “café baixo“, por ser de baixa qualidade.

Esses grãos defeituosos da variedade arábica acabam sendo destinados ao mercado interno, bem como a maior parte do conilon produzido no Brasil. O conilon, como é conhecida a variedade robusta por aqui, não rende uma bebida fina e doce como o arábica. Se quiser saber mais sobre essas diferenças veja esse post.

Além dos grãos brocados, também são considerados defeitos: grãos ardidos (1), mal formados ou mal granados (2), paus (3), pedras (4), pretos (5) e verdes (6).

Outros defeitos do café

Durante o processo do beneficiamento do café, os grãos brocados são separados com outros grãos defeituosos, tanto pela diferença de densidade, como pela catação eletrônica ou manual. O grão brocado prejudica a qualidade da bebida.

As boas práticas durante o cultivo do café também ajudam no controle das brocas, por exemplo: espaçamento entre os cafezais, permitindo arejamento; colheita bem feita, evitando deixar frutos na planta e no chão.

Quer dizer que consumimos um café de pior qualidade?

Infelizmente, a maior parte do café consumido no Brasil é um café “baixo”.

O Brasil é o maior produtor de café do mundo e segundo maior consumidor, atrás apenas dos Estados Unidos.

Produção e consumo de café
Fonte: Worldwatch Institute

Aqui, esse café cheio de defeitos é misturado com outros cafés, isto é, são feitos blends que mantêm o mesmo padrão de café e uma torra mais escura para disfarçar as características ruins dos grãos.

Felizmente, o consumo de café está mudando aqui no Brasil. Cada vez mais notamos a presença de cafeterias que servem cafés diferentes, com preparos diversos, grãos diferentes e de qualidade. Há mais opções nas gôndolas dos supermercados para quem quer provar cafés diferentes e os clubes de assinatura, como o Grão Gourmet, que fazem uma seleção mensal diretamente da fazenda produtora.

Como surgiu a broca no Brasil?

A primeira vez que a broca causou estragos nos cafeeiros aqui do Brasil foi na década de 1920 em Campinas (SP), quando o café era o principal produto da pauta de exportações do país, responsável por cerca de 70% das exportações brasileiras.

A gravidade do caso fez o Ministério da Agricultura convocar entomologistas (especialistas na história natural dos insetos) de renome para identificar e descobrir uma forma de combater essa praga. Confirmou-se a suspeita na identificação do inseto Stephanoderes hampei, o mesmo que causou devastação nos cafezais de Java e Sumatra anos antes. Nessa época houve uma grande campanha de divulgação científica com artigos técnicos, cartilhas, imagens e até a produção de um filme!

Cartaz do filme sobre broca
A campanha contra a broca-do-café em São Paulo (1924-1927)*, 2006 – André Felipe Cândido da Silva

Como é em outros países?

Os países que importam café, como Estados Unidos, Japão e países da Europa, possuem um controle e só compram cafés sem defeitos como a broca, pois esse tipo afeta muito a qualidade da bebida.

Por isso que o café que é exportado passa por uma separação e limpeza, para retirada desse e de outros defeitos dos grãos como grão preto, ardido, verde, mal granado, concha, quebrado etc.

Café com defeitos e sem defeitos

Café não é sempre igual

E essa é a beleza desse universo!

Você sabia que o café tem cheiros e sabores naturais que remetem a flores, frutas, chocolate, baunilha e muitos outros?

E que existe uma roda de aromas e sabores para ajudar você a identificar essas características?

Pois é, por isso convido você a descobrir esse mundo novo de cafés muito bons produzidos aqui e que vão para as cafeterias americanas, japonesas, norueguesas. Não precisa ir longe para provar o que de melhor produzimos 😉 (conheça nosso clube de assinaturas de café!)

Abraços cafeinados,

Renata – fundadora do Grão Gourmet

24 thoughts on “O inseto do café

  1. ALEXANDRE EMIDIO says:

    que pena, que ficamos com o chamado resto, e quando queremos beber um café de qualidade pagamos caro.

    • Renata Kurusu Gancev says:

      Oi Alexandre, tudo bem? Agradeço o comentário 😉 Você acha bons cafés a um preço acessível, temos que valorizar quem prioriza qualidade na hora de produzir o café, principalmente os pequenos produtores. Um abraço, Renata

  2. Monica says:

    Adorei as explicações. É uma pena que sempre o pior fica pra gente consumir, nós exportamos os melhores cafés e ficamos com o lixo, muito triste isso.

  3. Thiago says:

    Matéria muito boa. Só não concordo com a valorização dos inseticidas implicitado na matéria. Não sou favorável a nenhum tipo de agrotóxico por seus inúmeros malefícios para o meio ambiente e para nós. Já existem clubes de cafés especiais que só trabalham com cafés orgânicos arábicos de agricultura familiar. Esse é o futuro.

  4. Edmilze Matheus says:

    Muito triste que tenhamos que ficar com o pior…E é assim, porque o povo brasileiro é na sua maioria, pobre, pois temos um governo que não cria oportunidades para os empreendedores, o que dificulta a geração de empregos. Temos de tudo no Brasil…e de boa qualidade, mas não pode ser nosso. 🙁

  5. Edmilze Matheus says:

    Seu comentário está em moderação.
    Muito triste que tenhamos que ficar com o pior…E é assim, porque o povo brasileiro é na sua maioria, pobre, pois temos um governo que não cria oportunidades para os empreendedores, o que dificulta a geração de empregos. Temos de tudo no Brasil…e de boa qualidade, mas não pode ser nosso. ?

    • Renata Kurusu Gancev says:

      Olá Edmilze, é uma pena mesmo. Mas temos que continuar acreditando que irá melhorar. É uma questão de renda mesmo 🙁

    • Renata Kurusu Gancev says:

      Olá Eliane, tudo bem? Aqui no Brasil temos ótimos cafés. Você pode procurar para cafés que seja 100% arábica, de preferência em grãos. Se tiver informações da origem e data de torra, melhor ainda 😉 #ficaadica

  6. Alauri says:

    Parabens pela materia,informaçao sempre é bem vinda. Temos sim cafes de boa qualidade,principalmente em grão arabica,mas ainda é caro para parte da populaçao.

  7. Florinda Fabbris says:

    Muito interessante sua publicação Renata Kurusu! Parabéns!
    Quando criança tinha no quintal dois pés de café. Minha mãe e nós (filhas) todos os anos colhíamos os grãos, depois que secavam ao sol descascávamos com muita paciência.
    Minha mãe deixava secar, torrava-os na panela de ferro no fogão á lenha, mexendo sem parar. Ao esfriarem os grãos, moíamos no moedor manual. Depois era só coar no antigo coador de pano. Aquele cheiro era uma delícia! saudades!…..

    • Renata Kurusu Gancev says:

      Obrigada Florinda! Linda lembrança sua com café 😉 Você poderia nos escrever um conto cafeinado hein?!

      • Aparecida Ramos Mattar says:

        Minha querida, poderia pesquisar as marcas menos bichadas p/ nos informar?
        Só tomo café qdo vou p Minas, q/ sei realmente a origem, mas , às vezes sinto uma enorme vontade de tomar um cafezinho e todavia não me arrisco. Grande abraço, e gratidão p/ informação !!

        • Renata Kurusu Gancev says:

          Olá Aparecida, tudo bem? A dica é comprar um café com procedência, de preferência 100% arábica, se puder ser em grãos melhor ainda, com informações sobre o café, como é a bebida, se é especial ou gourmet. Um abraço, Renata

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