Eduardo Pinheiro Campos / MG
Século XIX já findando nas últimas décadas e o Brasil efervescendo politicamente. O país já acenava em uma mudança de monarquia para república e a escravidão vinha perdendo força. Nesse cenário que a família Campos mantinha firme as raízes no interior de Minas Gerais, no povoado de São Francisco de Paula. Os cafés brasileiros, em especial o mineiro, despontavam como produtos de grande penetração no mercado externo. Mário Campos e Silva se transforma em cafeicultor de grande força no povoado, em 1904.
Décadas foram se passando e a família de Mário foi crescendo. Em 20 de maio de 1946 nasce o neto, Eduardo Pinheiro Campos. Ainda jovem, Eduardo Campos recebe uma herança paterna, um bom pedaço de terra em Presidente Olegário, cidade mineira a 430 quilômetros da capital Belo Horizonte. A fazenda é batizada “Dona Nenem”, em homenagem à mãe.
Pouco tempo depois de se descobrir engenheiro, Eduardo se redescobre como homem do agronegócio. O café retorna às mãos do mineiro de modo definitivo. “Eu comecei a trabalhar na cafeicultura na região do Cerrado em 1977. Na região de Patos de Minas fui o pioneiro na produção de café. Em outras partes do Cerrado já havia cafeicultura, ainda de forma tímida”, orgulha-se Campos. A Dona Nenem, com 800 hectares, tem 230 hectares separados para a produção de café.
As rígidas leis ambientais seguidas à risca, somadas a boas práticas agrícolas de produção, manejo e atenção ao social, garantem à fazenda selos de importantes certificadoras internacionais. Dona Nenem é certificada pela UTZ Kapeh e pela Rain Forest.
Outra etapa importante para a manutenção das certificações é o período de colheita. Campos explica como consegue fazer uma coleta seletiva, visando a alta qualidade dos frutos. “A minha colheita é feita por máquinas que já fazem uma coleta seletiva. A escolha vai pelo grau de maturação dos grãos, o que é diferenciado pelo peso e densidade de cada semente. A gente regula a máquina para que ela recolha apenas a chamada “cereja”, deixando os cafés verdes ainda amadurecendo no pé. Dias mais tarde, a gente volta e recolhe aqueles grãos que ficaram no cafezal, que antes estavam verdes e agora já estão maduros, no ponto ideal para a colheita. Depois dessa segunda parte ainda restam alguns grãos, e o que sobra nos pés a gente faz a colheita manual, que nós chamamos de repasse manual. Todo o processo é para obter uma safra de qualidade”.
Todo o trabalho com prudência redobrada é recompensado. A produção de Eduardo Campos repetidas vezes figura em posições de destaque em competições que premiam os melhores cafés do país. Em 2014 um lote do café da fazenda Dona Nenem foi 1º colocado na categoria natural no Concurso de Qualidade da Região do Cerrado Mineiro.
Tanta qualidade é saboreada por apreciadores de café em, pelo menos, três continentes. As 60 mil sacas produzidas nos últimos três anos chegaram a milhões de consumidores na Itália, no Japão, em Israel e em diversos outros países. A certeza é que muitos outros sentirão na boca a delícia que é a “cereja” plantada e bem tratada nas terras dos Campos, esse sabor especial de qualidade, que vem sendo degustado desde o século XIX.
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Região de origem: Cerrado Mineiro, Presidente Olegário, estado de Minas Gerais
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Fazenda: Dona Nenem
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Produtor: Eduardo Pinheiro Campos
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Variedades: 100% Arábica – Bourbon Amarelo
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Processo: Despolpado
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Altitude: 1.060 m
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Florada: Outubro/Novembro
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Colheita: Início em Maio e término em Setembro
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Peneira: 16 acima
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Pontuação: 84 pontos na escala SCAA
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Notas: Aroma com notas de mel, corpo liso, acidez equilibrada e doçura acentuada
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Certificações
HISTÓRIA DA REGIÃO DO CERRADO MINEIRO
Primeira indicação Geográfica Protegida do Brasil, a Região do Cerrado Mineiro é composta por 55 municípios. Com mais de 4.500 produtores, a região produz anualmente cinco milhões de sacas de café arábica. Suas estações são bem definidas, com verões úmidos e invernos secos, as altitudes variam entre 800 e 1.300 metros, tudo isso, somado ao imenso cuidado nas lavouras e o uso de novas tecnologias de irrigação, colheita mecanizada e processamento de café, resulta em uma bebida de excelente qualidade, com acidez média, sabor adocicado e notas de chocolate.
A Região do Cerrado Mineiro é a primeira e única região cafeeira do Brasil a possuir a certificação de Denominação de Origem, o que vai além das características do território, valorizando e diferenciando também o produto. Para se conquistar uma Denominação de Origem, é preciso comprovar que o produto produzido naquela Região é único, possui características que somente podem ser obtidas naquela origem e isso inclui não somente fatores naturais como clima, solo, relevo e altitude, como também os fatores humanos. Ou seja, a soma destes fatores: naturais e humanos formam o “saber fazer”, que deve ser exclusivo daquela Região.